sábado, 14 de abril de 2012

Ainda existem cineastas e espectadores que gostam de dar umas voltas por becos e vielas.

A globochanchada equivale a um passeio no shopping. 


Existem equivalências entre experiências urbanísticas e experiências cinematográfica? Há filmes que remetam, por exemplo, a um passeio de bicicleta no parque ou a uma caminhada por uma rua deserta?

Desconfio que sim, que existem comparações possíveis. Porque sempre que vejo uma dessas comédias de situação brasileiras recentes eu me sinto em um shopping center ou em condomínio fechado. Eu me refiro aos filmes que o cineasta Guilherme de Almeida Prado bem definiu como globochanchadas: “Se eu fosse você”, “De pernas para o ar”, “Divã”, “Qualquer gato vira-lata”, “Muita calma nessa hora”, “A mulher invisível” e agora “Cilada.com”.




O shopping e o condomínio são lugares fechados que emulam outros abertos, respectivamente uma rua de comércio ou uma vila. Mas que oferecem a comodidade e a artificialidade do ambiente controlado, planejado, protegido do caos do resto da cidade.

As globochanchadas também emulam a vida real, mas não se deixam contaminar por ela. E eu me refiro ao aspecto audiovisual mesmo desses filmes: eles parecem filmados em ambientes assépticos, esterilizados, herméticos. Até as externas ter um shopping como locação.

A julgar pelo sucesso nas bilheterias desses filmes (o de “Cilada.com” é o exemplo mais recente), boa parte do público de cinema brasileiro quer mesmo essa sensação de segurança, de conforto trazido por esses filmes – assim como muitas pessoas sonham em um dia morar num condomínio fechado.

Mas ainda existem cineastas e espectadores que gostam de dar umas voltas por becos e vielas. Nem tudo está perdido, para nossas cidades e nosso cinema.

Fonte: Ricardo Calil - colunista.ig - 14/07/2011

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