segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Articulação comunitária permite melhor estrutura do turismo


Estudo realizado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP mostra a importância da participação comunitária na estruturação do turismo de uma cidade ou região. Na pesquisa de doutorado A construção das paisagens turísticas nos descaminhos da Estrada Real, o professor Altamiro Sérgio Mól Bessa comparou duas cidades localizadas em Minas Gerais: Milho Verde e São Gonçalo. Os municípios passaram por processos diferentes de construção de suas paisagens turísticas, mas ficou evidente na pesquisa a importância das comunidades locais para receber investimentos dos serviços ligados ao turismo.


Cidade de Milho Verde/MG
Por outro lado, Bessa destaca que a ausência de articulação comunitária influencia significativamente na condição futura das regiões, podendo causar desequilíbrio ambiental e queda na qualidade e vida dos habitantes. “O que há de interessante neste trabalho é observar que, quando houve uma preocupação por parte da comunidade em estruturar esse turismo, seu desenvolvimento deu-se de forma sustentável”, afirma.
Milho Verde e São Gonçalo sofreram com o processo de exploração da mineração, nos séculos

17 e 18. Milho Verde foi bastante devastada nesse período, resultando em paisagens com sérios problemas ambientais. Ao passo que São Gonçalo, base da exploração estrangeira com empresas inglesas no local, foi ocupada de maneira mais ordenada e cuidadosa.
Cidade de São Gonçalo/MG


O avanço de novos habitantes para as regiões se deu de maneira também distinta. Para Milho Verde, migraram pessoas que vinham da contra-cultura do final dos anos 1970, que queriam um maior contato com a natureza e viver sem maiores controles. Em São Gonçalo, a sociedade foi organizada de modo a ganhar mais autonomia no controle do espaço público. Este processo foi iniciado por Martin Kuhne, um alemão que se instalou na cidade, construiu escolas, desenvolveu associações e fez a comunidade perceber a necessidade de exercer um controle das práticas turísticas nos espaços públicos.
Na tese, a paisagem foi a principal categoria analítica. Bessa mapeou as localidades por imagens de satélite e as dividiu em setores, cada uma constituindo uma unidade paisagística aos quais chamou de paisagens. A pesquisa de campo consistiu em uma série de entrevistas e questionários para entender como os habitantes das duas cidades encaravam a ideia do turismo e os problemas de sustentabilidade dos lugares. “O resultado adicionou evidências à pesquisa: quando a população se prepara para receber os turistas, exercendo ela própria a gestão das ações relacionadas  ligadas à atividade, as localidades sofrem menos impactos delimitando os pontos para o avanço do setor, a cidade reage melhor à sua ação e sofre menos danos”, coloca Bessa.
Sociedade no papel do Estado
Em São Gonçalo, a sociedade tomou para si as rédeas do controle que seria do Estado, o que não aconteceu em Milho Verde. Nessa região do norte de minas, o controle estatal é raro e ineficiente por causa do baixo índice demográfico e pela baixa movimentação econômica. Assim, as comunidades mais organizadas passam a cumprir o papel que é do Estado, zelando pelo seu patrimônio.
“A partir do momento em que você deixa o turismo fazer o que quiser, os próprios moradores locais vão ter direitos suprimidos, como o direito a um ambiente sossegado, áreas verdes e patrimônios históricos preservados ”, diz Bessa, que completa dizendo que essa é uma diferença básica entre Milho Verde e São Gonçalo: na primeira, não há perspectiva, a curto prazo, de mudança porque a sociedade não tem plena consciência do seu papel e de sua  importância na garantia de um espaço público democrático, enquanto que a segunda conseguiu se preparar e se articular para ter associações comunitárias atuantes voltadas para o turismo, mas que mantém tradições, como a de fazer doces típicos, por exemplo.
A pesquisa ressalta que em todo projeto turístico deve se perguntar, primeiro, se os lugares têm condições de suportá-lo, antes mesmo de se preocupar com o potencial da região para atrair público. O preparo da população para receber o fluxo de pessoas e capital é primordial na recepção dos empreendimentos e dos turistas, o que garantirá ou não a preservação sustentável dos lugares e da qualidade de vida dos moradores.


fonte: Agência de Notícias da USP
Mais informações: altamirobessa@uol.com.br

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